Poços da Neve e Capela de Santo António

Castanheira de Pera

Poços da Neve e Capela de Santo António

Castanheira de Pera

A Real Fábrica da Neve do Coentral situa-se no Cabeço do Pereiro, segunda elevação mais alta da serra da Lousã, a cerca de 1150 metros de alAtude. Aqui se desenvolveu uma aAvidade peculiar no nosso país: o negócio da recolha de neve, armazenada em poços na invernada, e o transporte do gelo para Lisboa, usado na época esAval na confeção de gelados e de bebidas frescas, servidos no requinte da Casa Real e nos luxuosos botequins de Lisboa. Para além destes usos, a neve era ainda uAlizada na conservação de alimentos e no tratamento hospitalar de algumas enfermidades. A neve era recolhida usando utensílios rudimentares (pás, ancinhos e rodos) e transportada em cestas à cabeça até aos poços, onde era despejada. Formando várias camadas compactadas com cerca de 40 a 50 cenRmetros, intercaladas com um manto de palha, dois homens calcavam a neve com pesados maços de madeira, até encherem os poços.

No relato das viagens a Portugal, entre 1797 e 1799, o ilustre naturalista e botânico alemão Heinrich Friedrich Link descreveu o processo de transporte da neve: «(…) Para transportar a neve, coloca-se em cestas fora do armazém [poço]. Em seguida, pisa-se em moldes alongados compostos por duas peças, para a poder dividir. Depois da neve ter sido pisada é removida do molde e embalada em palha e lona; em seguida, é carregada em carros. O transporte funciona apenas durante a noite (…). Todos os dias daqui partem cargas de neve que tomam a estrada de Espinhal e de Valada e, em seguida, descem o Tejo até Lisboa. Também se transporta a neve para Coimbra.»

Joaquim Ferreira, pesquisador do odcio neveiro, refere que as cargas de neve expedidas do Cabeço do Pereiro levavam cerca de 5 dias até Lisboa, incluindo o transbordo nos cais fluviais de Constância ou Barquinha, registando-se perdas entre os 35% e os 50%. Para facilitar o transporte da neve, não só moroso como caro e didcil, os alvarás reais concediam amplos privilégios aos neveiros, dando “ordens a todas as autoridades civis e militares para facultarem ao arrematante, para a condução do gelo, carros, pessoal e barcos, bem como manAmentos, tudo pelos preços comuns ou correntes que fossem justos…”

Mandada erigir pelo neveiro-mor Julião Pereira de Castro, a capela dedicada a Santo António foi inaugurada em 1786.

O conjunto formado pelos Poços da Neve e a Capela de Santo António está classificado na categoria IIP – Imóvel de Interesse Público, pelo Decreto-Lei n.º 1/86, DR, 1.ª série, n.º 2 de 03 de janeiro de 1986.